Raquel Littério de Bastos / Eduardo Neves Rocha de Brito
148 páginas
ISBN 978-65-5953-168-4
Este livro é uma etnografia não apocalíptica realizada em espaços de treinamento da Antropotécnica que aqui chamaremos pelo nome habitual de laboratórios de habilidades. A pesquisa ocorreu em duas etapas: a primeira, de cunho bibliográfico, entre os anos de 2018 e 2019, na Faculdade de Medicina da Unesp de Botucatu (FMB/UNESP) e, posteriormente, a etnografia desenvolvida a partir de 2020 até 2023, na Universidade Federal do Rio Grande do Norte, na Escola Multicampi de Ciências Médicas de Caicó (EMCM/UFRN).
O livro convence o leitor que, com a mudança de sociotécnica, com as possibilidades da antropotécnica, muda-se formas de percepção, de sensibilidade e de olhar. Vale lembrar que Foucault já alertara que o surgimento da medicina moderna ocorria sob a égide de um olhar clínico atuando na anulação das imaginações sobre doença. Tal mudança produziu deslocamento do conhecimento da imaginação para um olhar direcionado ao encerramento da doença no corpo, como os correlatos discursos para representar sintomas. Foucault vai dizer então que, na medicina moderna, o corpo humano constitui o espaço de origem e repartição da doença. Para ele, no espaço, as linhas, volumes, superfícies e os caminhos são fixados, em uma geografia cada vez mais familiar, pelo atlas anatômico. Os termos que usei são bem próximos ao que ele escreveu em O nascimento da clínica.
Enfim, o livro toca a “matéria vertente” dos tempos atuais. Aponta para um futuro próximo. Provoca o centro do olhar médico. Mas, sem mesmo tocar no tema diretamente, nos convoca o repensar os limites da imaginação do olhar médico. Quem sabe assim possamos trilhar caminhos outros que abarquem outras-imaginação e que expanda aquilo que conhecemos como medicina.