Leandro Rocha
110 páginas
ISBN 7988594591593
Neste seu livro, Leandro Rocha assume o risco e tira disso o mérito de trazer à evidência um tema quase escondido por detrás das complexas abordagens filosóficas mais explícitas da obra e do pensamento de Kant e também por isso geralmente esquecido ou muito secundarizado nas hermenêuticas mais comuns do legado do Kantismo. Trata-se do tema da Vida, o qual se deixa modular em vários contextos, todos eles semanticamente densos, de entre os quais se destaca aquele que dá o título ao livro, o do “sentimento de vida” ou “sentimento vital” (Lebensgefühl), expressão mediante a qual o autor da Crítica do Juízo, logo no primeiro parágrafo da Primeira Parte desta obra, caracteriza a peculiaridade do juízo de gosto ou sentimento estético de prazer ou desprazer.
Como se desafiasse uma conhecida tese, proposta por Michel Foucault, em seu livro Les mots et les choses (1966), segundo a qual, no contexto do regime epistémico da História Natural setecentista, até aos fins do século XVIII, a Vida, seja como categoria científica ou mesmo como filosofema, não existe, existem seres vivos mas não propriamente a vida, Leandro Rocha propõe um Kant, que, por assim dizer, se projeta para além do seu tempo, aparecendo já como um verdadeiro “filósofo da vida”, e isso sob diferentes aspetos, os quais, todavia, segundo a proposta do autor, apesar da sua peculiar especificidade, fazem parte de uma mesma constelação semântica.
Assim, para além da interpretação pessoal que liga e mostra a possibilidade de coerência do espetro semântico da Vida na obra de Kant, Leandro Rocha deixa sugeridas inúmeras trilhas que são outras tantas tarefas, às quais talvez a filosofia kantiana não pode responder satisfatoriamente, embora tenha sido nessa filosofia que algumas dessas trilhas e dessas tarefas foram pela primeira vez abertas e formuladas.
Leonel Ribeiro dos Santos